1 Restavam somente dois dias para a Páscoa e para a festa dos pães sem fermento. Os chefes dos sacerdotes e os mestres da lei buscavam um meio de surpreender Jesus em qualquer erro e assim poder condená-lo à morte.
2 Entretanto, comentavam: “Que não seja durante as festividades, para que o povo não se tumultue”.
3 E estando Jesus em Betânia, reclinado à mesa na casa de certo homem conhecido como Pedro, o leproso, achegou-se dele uma mulher portando um frasco de alabastro contendo valioso perfume, feito de nardo puro; e, quebrando o alabastro, derramou todo o bálsamo sobre a cabeça de Jesus.
4 Diante disso, indignaram-se alguns dos presentes, e a criticavam entre si: “Para que este desperdício de tão valioso perfume?
5 Um bálsamo como este poderia ser vendido por trezentos denários, e o dinheiro ser doado aos pobres”. E a censuravam severamente.
6 “Deixai-a em paz!”- ordenou-lhes Jesus. “Por que causais problemas a esta mulher? Ela realizou uma boa ministração para comigo”.
7 Quanto aos pobres, sempre os tendes ao vosso lado, e os podeis ajudar todas as vezes que o desejardes, todavia a mim nem sempre me tereis.
8 A mulher fez tudo que estava ao seu alcance. Derramou o bálsamo sobre mim, antecipando a preparação do meu corpo para o sepultamento.
9 Com toda a certeza Eu vos asseguro: onde quer que o Evangelho for pregado, por todo o mundo, será também proclamada a obra que esta mulher realizou, e isso para que ela seja sempre lembrada”.
10 E, depois disso, Judas Iscariotes, um dos Doze, foi encontrar-se com os chefes dos sacerdotes, com o propósito de lhes entregar Jesus.
11 Ao ouvirem a proposta, eles ficaram muito satisfeitos e se comprometeram a lhe pagar algum dinheiro. E, por isso, ele procurava uma oportunidade para entregá-lo.
12 E, no primeiro dia da festa dos pães sem fermento, quando tradicionalmente se sacrificava o cordeiro pascal, os discípulos de Jesus o consultaram: “Onde desejas que vamos e façamos os preparativos para ceares a Páscoa?”
13 Então Ele enviou dois de seus discípulos instruindo-lhes: “Ide à cidade, e certo homem carregando um cântaro de água virá ao vosso encontro.
14 Segui-o e dizei ao proprietário da casa onde ele entrar que o Mestre deseja saber: ‘Onde está a minha sala de jantar onde cearei a Páscoa com os meus discípulos?’.
15 E aquele homem vos mostrará um amplo cenáculo todo mobiliado e pronto; ali fazei os preparativos”.
16 Partiram, pois, os discípulos e chegaram na entrada da cidade onde encontraram tudo como Jesus lhes havia predito. E ali prepararam a Páscoa.
17 Ao pôr-do-sol chegou Jesus com seus Doze.
18 E quando estavam ceando, reclinados à mesa, Jesus lhes revelou: “Com toda a certeza vos afirmo que um dentre vós, este que come comigo, me trairá”.
19 Eles ficaram consternados e lhe afirmavam: “É certo que não serei eu!”.
20 Mas, asseverou-lhes Jesus: “É um dos Doze, aquele que come comigo do mesmo prato.
21 O Filho do homem vai, conforme está escrito a respeito dele. No entanto, infeliz daquele que trai o Filho do homem! Melhor lhe fora jamais haver nascido!”.
22 E, enquanto ceavam, tomou Jesus um pão e, tendo dado graças, o partiu, e o serviu aos seus discípulos, declarando: “Tomai, isto é o meu corpo”.
23 Em seguida, tomou Jesus um cálice, deu graças e o entregou aos discípulos, e todos beberam dele.
24 Então lhes revelou: “Isto é o meu sangue da Aliança, o qual é derramado para o bem de muitos.
25 Com toda a certeza vos afirmo que não voltarei a beber do fruto da videira, até aquele dia em que beberei o vinho novo no Reino de Deus”.
26 E, depois de haverem cantado um salmo, partiram para o monte das Oliveiras.
27 Então, Jesus lhes advertiu: “Todos vós me abandonareis. Pois está escrito: ‘Ferirei o pastor, e as ovelhas serão dispersas’.
28 Contudo, depois da minha ressurreição, partirei adiante de vós rumo à Galiléia”.
29 Pedro exclamou: “Mesmo que todos te abandonem, eu nunca te deixarei!”.
30 Replicou-lhe Jesus: “Com toda a certeza te asseguro que ainda hoje, nesta noite, antes que por duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes”.
31 Entretanto, Pedro insistia com eloqüência: “Ainda que seja preciso que eu morra ao teu lado, jamais te negarei!”. E da mesma maneira responderam todos os demais.
32 Então caminharam para um lugar chamado Getsêmani e, tendo chegado, solicitou Jesus aos seus discípulos: “Assentai-vos aqui, enquanto Eu vou orar”.
33 E levou consigo a Pedro, Tiago e João, e começou a sentir grande temor e profunda angústia.
34 E compartilhou com eles: “Minha alma está extremamente triste até à morte; ficai pois aqui e vigiai”.
35 Caminhou um pouco mais adiante e, prostrando-se, orava para que, se possível, àquela hora fosse afastada dele.
36 E rogava: “Abba, Pai, todas as coisas são possíveis para ti, afasta de mim este cálice; todavia, não seja o que Eu desejo, mas sim o que Tu queres”.
37 Ao voltar para seus discípulos, os surpreendeu dormindo: “Simão!”- chamou Ele a Pedro. “Estais dormindo? Não conseguistes vigiar nem por uma hora?
38 Vigiai e orai, para não cairdes em tentação, pois, de um lado, o espírito está pronto, mas, por outro lado, a carne é fraca”.
39 E, uma vez mais, Ele se afastou e orou, repetindo as mesmas expressões.
40 Ao regressar, novamente os encontrou dormindo, porque seus olhos estavam pesados, mas não sabiam como justificar-se.
41 Voltando ainda uma terceira vez, Ele lhes admoestou: “Ainda dormis e descansais? Basta! Eis que a hora é chegada! O filho do Homem está sendo entregue nas mãos dos pecadores.
42 Levantai-vos, pois, e vamos! Eis que chegou aquele que me está traindo!”.
43 Jesus ainda não havia terminado de falar, quando surgiu Judas, um dos Doze. E com ele chegou uma multidão armada de espadas e cassetetes, vinda da parte dos chefes dos sacerdotes, mestres da lei e líderes religiosos.
44 Ora, o traidor tinha combinado um sinal com eles: “Aquele a quem eu saudar com um beijo, é Ele: prendei-o e levai-o sob forte segurança”.
45 Então, assim que chegou, dirigiu-se imediatamente para Jesus e o saudou: “Rabbi!”. E o beijou.
46 Em seguida, os homens agarraram Jesus e o prenderam.
47 Nesse momento, um dos que estavam bem próximos puxou da espada e feriu o servo do sumo sacerdote, decepando-lhe a orelha.
48 Exclamou-lhes Jesus: “Acaso estou Eu liderando alguma rebelião, para virdes me prender com espadas e cassetetes?
49 Pois diariamente tenho estado convosco no templo, vos ensinando, e não me prendestes. Contudo, é para que se cumpram as Escrituras”.
50 Logo em seguida, todos fugiram e o abandonaram.
51 Certo jovem, vestindo apenas um lençol de linho, estava seguindo Jesus, quando também tentaram prendê-lo.
52 Mas ele, largando o lençol, fugiu desnudo.
53 Levaram Jesus ao sumo sacerdote; e então se reuniram todos os chefes dos sacerdotes, os líderes religiosos e os mestres da lei.
54 Pedro o seguiu de longe até o pátio do sumo sacerdote. E permaneceu assentado entre os criados, aquecendo-se junto ao fogo.
55 Os chefes dos sacerdotes e todo o Sinédrio estavam buscando denúncias contra Jesus, todavia não conseguiam encontrar nenhuma.
56 Várias pessoas também testemunharam falsamente contra Ele, contudo, suas declarações não se mostraram coerentes.
57 Então, outros se levantaram para testemunhar inverdades contra Ele:
58 Nós o ouvimos exclamar: “Eu destruirei este templo construído por mãos humanas e em três dias edificarei outro, não erguido por mãos de homens”.
59 Entretanto, nem mesmo quanto a essa acusação o testemunho deles era congruente.
60 Então o sumo sacerdote levantou-se diante de todos e interrogou a Jesus: “Nada contestas à denúncia que estes levantam contra ti?”
61 Ele, contudo, permaneceu em silêncio e nada replicou. Mas o sumo sacerdote voltou a indagá-lo: “És tu o Messias, o Filho do Deus Bendito?”
62 Jesus asseverou: “Eu Sou! E vereis o Filho do homem assentado à direita do Poderoso e chegando com as nuvens do céu”.
63 Diante disto, o sumo sacerdote rasgou suas vestes e esbravejou: “Por que ainda necessitamos de outras testemunhas?”
64 “Ouvistes a blasfêmia! Que vos parece?” E todos o julgaram merecedor da pena de morte.
65 E assim alguns começaram a cuspir nele; encapuzaram-no, vendando seus olhos e, esmurrando-o, exclamavam: “Profetiza!”. E os guardas o levaram debaixo de bofetadas.
66 Continuando Pedro na parte de baixo, no pátio, uma das criadas do sumo sacerdote passou por ali.
67 E, vendo a Pedro se aquecendo, fixou bem seus olhos nele e afirmou: “Tu também estavas com Jesus, o Nazareno!”.
68 Todavia, ele o negou, assegurando: “Não o conheço, nem ao menos sei do que estás falando”. Então foi para fora, em direção ao pórtico. E um galo cantou.
69 Quando a criada o viu lá, começou novamente a falar às pessoas que estavam em derredor: “Este é um deles!”.
70 Porém, uma vez mais, ele o negou. E, pouco tempo mais tarde, os que estavam sentados ali perto identificaram Pedro: “Com toda a certeza, tu és um deles, pois és galileu também!”.
71 Pedro começou a amaldiçoar-se e a jurar: “Não conheço esse homem de quem falais!”.
72 E, em seguida, o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe dissera: “Antes que duas vezes cante o galo, tu me negarás três vezes”. E, percebendo o que fizera, caiu em profundo pranto.