Em nossos dias, a Bíblia já foi traduzida para inúmeros idiomas, podendo alcançar muitos povos e nações. Se pensarmos apenas na Língua Portuguesa, veremos como ela não é apenas encontrada em diferentes idiomas, mas também em diferentes versões, modelos, com comentários ou não, com estudos específicos para homens e mulheres, jovens, adolescentes e até mesmo crianças. A lista é enorme, mas nem sempre foi assim.
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Sabemos que o Antigo Testamento foi originalmente escrito em hebraico, a língua do povo judeu, e com alguns trechos em aramaico. Mas por volta do século IV a.C., com as conquistas de Alexandre e a helenização do mundo, desenvolveu-se uma língua comum: o grego. Essa língua se tornou um dos principais elementos para comunicação da época e fez com que o número de judeus que falavam o grego aumentasse muito.
Surgiu, então, a necessidade de uma versão grega do Antigo Testamento, chamada de Septuaginta, a primeira tradução do Antigo Testamento para outro idioma que não fosse o hebraico, sua língua original.
A Septuaginta, feita durante os séculos III e II a.C., é uma tradução importantíssima pois, mais tarde, com o grego plenamente estabelecido, ela se tornaria a Bíblia dos cristãos primitivos, sendo usada pelos apóstolos e discípulos. Isso porque, provavelmente, a quantidade de exemplares da Septuaginta que circulava no mundo antigo era maior que a quantidade de exemplares da versão hebraica dos textos bíblicos.
Em qualquer lugar que a Septuaginta chegasse, por estar na língua mais falada da época, ela disseminava com muito mais facilidade as profecias a respeito da vinda do Messias e dos últimos tempos. Inclusive, afirma-se que muitos dos judeus e gentios que estavam em Jerusalém no dia de Pentecostes eram de regiões onde se falava o grego e, provavelmente, costumavam ler a Septuaginta.
Tudo aconteceu durante o reinado de Ptolomeu II Filadelfo, período em que os judeus receberam privilégios políticos e religiosos. Paralelo a isso, fundava-se a biblioteca de Alexandria, quando grandes obras do mundo antigo estavam sendo traduzidas para o grego. Entre essas obras estava o Antigo Testamento hebraico.
Mas por que esse nome? O termo “Septuaginta” vem do latim e significa “setenta”. Ela é assim chamada por causa da tradição a respeito de como ela foi formada. Essa tradição vem da carta de Aristéias. Nesta carta, ele relata que toda a tradução foi feita por setenta e dois anciãos judeus, sendo seis de cada uma das doze tribos de Israel, e que a obra foi completa em apenas setenta e dois dias. É justamente por isso que a Septuaginta também pode ser chamada de “versão dos setenta”, forma como Agostinho de Hipona se referiu a ela. Em muitos outros casos, ela pode aparecer apenas como o número setenta em numerais romanos. – LXX
A princípio, apenas a Torá foi traduzida, os cinco primeiros livros da Bíblia. Mas nos próximos anos, o restante do Antigo Testamento também foi traduzido e introduzido à Septuaginta, juntamente com alguns livros adicionais. Acredita-se que toda essa tradução já estivesse concluída em 150 a.C.
A Septuaginta serviu como uma espécie de ponte religiosa que ligou os judeus de língua hebraica com os demais povos de língua grega. Ela também serviu para resolver a separação entre os judeus do Antigo Testamento e os cristãos que a adotaram como seu Antigo Testamento muitos anos mais tarde.
Deixando de lado por um momento a tradição quanto ao número de tradutores e dias usados para completar a obra, a origem do ponto de vista histórico é que, nos últimos séculos antes de Cristo, muitos judeus provavelmente já teriam perdido o contato com o hebraico antigo. Já que no tempo de Ptolomeu II os judeus receberam privilégios políticos e religiosos, o cenário em Alexandria era muito propício para uma tradução das Escrituras Hebraicas para o grego.
Essa versão grega abrangia todos os livros que se achavam na Bíblia Hebraica, isto é, exatamente os mesmos livros encontrados no Antigo Testamento da Bíblia Protestante, mas também alguns outros livros. Estes outros livros são chamados de “deuterocanônicos” pelos católicos e de “apócrifos” pelos protestantes.
É interessante pensarmos como tudo isso aconteceu antes da vinda do Messias. Quando lemos que Jesus veio na plenitude dos tempos, (Gálatas 4:4) no tempo preciso e determinado por Deus, todos esses detalhes devem ser incluídos nisso. A unificação da língua e a propagação das Escrituras não mais no hebraico, mas em um idioma mais abrangente da época, fez parte do bom propósito do Senhor.
A Septuaginta surgiu no período em que o povo judeu estava sob domínio de um outro povo. Com isso, podemos ver como Deus está sempre no controle de tudo e pode usar até mesmo aqueles que não o servem declaradamente para cumprir Seus propósitos.