A Vulgata e a Proibição de Novas Traduções





O Antigo Testamento, escrito originalmente em hebraico, algum tempo depois foi traduzido para o grego, o idioma que foi se tornando mundial a partir das conquistas de Alexandre. Essa versão grega ficou conhecida como a Septuaginta. O Novo Testamento, por outro lado, já foi escrito no grego, justamente pelo fato de o idioma estar tão difundido.

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Chegou um momento, porém, em que o idioma grego já não era como antes. Apesar de ser compreendido por todo o Império Romano, ele já não alcançava mais a todos. O grego foi sendo substituído, pouco a pouco, pelo latim, que logo se tornou a língua oficial do Império.

Da mesma forma como se tornou necessário que o Antigo Testamento hebraico fosse traduzido para o grego, agora era necessário que a Bíblia fosse traduzida para o latim. Algumas traduções, feitas por vários estudiosos, já haviam surgido, mas nenhuma havia se firmado e havia muita confusão nessas traduções.

Dâmaso, que foi bispo de Roma entre 366 e 385 d.C., encarregou Jerônimo dessa tarefa e de produzir aquela que ficou conhecida como a Vulgata Latina. Jerônimo começou essa missão em 382 d.C.

Jerônimo começou traduzindo a partir da Septuaginta, a versão grega, mas a história conta que mais tarde ele se voltou para os textos hebraicos que estavam em uso na Palestina. Sua tradução do Antigo Testamento foi completamente concluída em 405 d.C., e não foi calorosamente recebida de imediato. Mas após a sua morte, a tradução de Jerônimo se sobressaiu das demais, predominou todo o cristianismo ocidental por mais de mil anos, e serviu de base para a maioria dos tradutores da Bíblia anteriores ao século XIX.

Segundo a SBB, a Sociedade Bíblica do Brasil, a Bíblia completa já chegou a setecentos idiomas, o que faz com que mais ou menos 80% da população mundial tenha acesso às Escrituras. Mas é importante destacarmos que os primeiros tradutores, aqueles que vieram depois de Jerônimo, enfrentaram grandes dificuldades.

Isso aconteceu porque a Vulgata se tornou a Bíblia oficial da Igreja Romana, o que fez com que as traduções para outros idiomas fossem completamente proibidas. Traduções sem a autorização da Igreja não eram aceitas, e além dessa proibição, a Igreja também defendia que somente ela tinha autorização para interpretar a Bíblia para o povo. Por isso, as pessoas comuns que não falavam o latim e nem podiam ler, só aprendiam com o clero.

Segundo a história, a Igreja Romana temia que as Escrituras Sagradas fossem distorcidas, e esse era o motivo de perseguirem os tradutores por muito tempo. Possuímos pouquíssimos exemplares de muitas traduções feitas neste período. Muitas obras foram completamente destruídas e muitos tradutores foram punidos até mesmo com a morte.

Além dessa perseguição contra aqueles que traduziam a Bíblia, a Igreja Romana também amaldiçoou a todos que tivessem e conservassem essas traduções das Escrituras em outros idiomas. Dado o peso que a palavra da Igreja possuía, ser amaldiçoado por ela era considerado algo extremamente sério.  

Como exemplo dessa triste realidade, podemos citar John Wycliffe. Nascido por volta de 1330, no interior da Inglaterra, Wycliffe tem seu nome associado à primeira tradução da Bíblia para o inglês. Naquela época, já havia partes da Bíblia no inglês, mas nenhuma tradução completa. Ele desafiou a tradição escolástica ao traduzir a Vulgata para a língua inglesa.

Wycliffe não é conhecido apenas por ter traduzido a Vulgata Latina para a língua inglesa, é claro. Ele também defendia e ensinava algumas ideias contrárias aos ensinos da Igreja, como o fato de que a Bíblia deveria estar disponível para todos, e que a alfabetização era a chave para a emancipação dos pobres.

John Wycliffe não morreu pela fogueira, uma das formas de punição impostas pela Igreja, mas trinta e um anos após a sua morte, foi ordenado que seus ossos fossem desenterrados e queimados. Ainda assim, as cópias daquela que ficou conhecida como a Bíblia de Wycliffe foi ilegalmente distribuída por seus seguidores, chamados de Lolardos.

Outro exemplo histórico é o de William Tyndale, que viveu mais de um século depois. Seu trabalho foi muito influenciado por Wycliffe e Lutero. Após terminar o Novo Testamento, Tyndale começou a trabalhar na tradução do Antigo Testamento hebraico, mas não viveu o suficiente para completar sua obra. Ele foi executado por estrangulamento e queimado.

Seu trabalho, porém, foi muito valorizado depois, sendo a base da maioria das traduções da Bíblia inglesa. Há até mesmo quem defenda uma estimativa de que 83% do Novo Testamento da versão King James tenha sido retirado da obra de William Tyndale.

Haveria muitos outros nomes para serem citados aqui, mas estes são o suficiente para vermos como a Bíblia passou por um caminho difícil para chegar até nós. Hoje, quando a Palavra de Deus já pode alcançar a tantas pessoas e em tantos idiomas e lugares, podemos ver como Deus, em Sua soberania, preservou e tornou possível que essa Mensagem transformadora nos alcançasse.

Se você tem acompanhado nossa série de estudossobre a Palavra de Deus, já sabe que começamos explicando desde a escrita do Antigo e Novo Testamento, os materiais utilizados nesse processo, bem como o tempo necessário. Também estudamos como podemos afirmar que a Bíblia que possuímos hoje é confiável nos baseando nos manuscritos que possuímos. Mas afinal, como e quando a Bíblia chegou em nosso idioma, na Língua Portuguesa? Responderemos isso muito em breve. 

 

Esperamos que este estudo tenha te abençoado e enriquecido seus conhecimentos bíblicos. Até a próxima!




Postado em 02/06/2023

A Palavra de Deus